Uma doença que, de certa maneira, causa-nos preocupação é o Alzheimer. O fato de perdemos a memória, de termos dificuldades para lidar com nosso cotidiano e dependermos de outros para que possamos ter uma vida de qualidade assusta, certamente.
O Alzheimer é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta principalmente a memória, o pensamento e o comportamento. Felizmente a ciência tem apresentado estudos que, se ainda não trazem a cura da doença , permitem relacionar a patologia a outras condições de saúde e, ainda, retardar sua progressão. Pesquisas atuais apontam que os olhos podem revelar muito sobre a saúde do cérebro.
Ainda que a perda de memória seja o sintoma mais conhecido do Alzheimer, as pesquisas desenvolvidas atualmente indicam que dificuldades visuais podem ser um dos primeiros sinais da doença. Esses problemas não estão relacionados diretamente à visão em si, como a miopia ou o astigmatismo, mas sim à maneira como o cérebro interpreta as informações visuais.
A relação entre problemas visuais e demência : um estudo científico.
Um estudo científico da Universidade de Loughborough, publicado em 10 de abril de 2024, aponta que a perda de sensibilidade visual pode ajudar a identificar traços de demência até 12 anos antes do diagnóstico da doença. A pesquisa foi baseada em 8.623 pessoas saudáveis em Norfolk, Inglaterra, as quais foram acompanhadas por muitos anos. O resultado final demonstrou que 537 participantes desenvolveram demência. Dessa maneira, puderam ser analisados os fatores que podem ter precedido o diagnóstico.
Inicialmente, os participantes da pesquisa fizeram um teste de sensibilidade visual. Para isso, tinham que apertar um botão assim que vissem um triângulo se formando em um campo de pontos em movimento. As pessoas propensas a desenvolver demência eram muito mais lentas para vê-lo na tela do que as que não seriam afetadas pela condição.
Há vários aspectos do processamento visual que são afetados pela doença de Alzheimer:
O estudo apontou que “os problemas visuais podem ser indicadores precoces de declínio cognitivo, pois as placas amiloides tóxicas associadas à doença de Alzheimer podem afetar primeiro áreas do cérebro associadas à visão, com partes do cérebro associadas à memória sendo danificadas conforme a doença progride. Portanto, os testes de visão podem encontrar déficits antes dos testes de memória.”
Como o Alzheimer afeta a visão?
O Alzheimer prejudica diferentes áreas do cérebro, incluindo o córtex visual e as regiões associadas ao processamento de imagens. Como resultado, as pessoas com a doença podem ter dificuldades para considerar rostos, perceber profundidade, interpretar letras e números corretamente e até apertar um botão quando visualizam uma imagem determinada – como foi o caso do teste de sensibilidade realizado pela pesquisa da Universidade de Loughborough.
De maneira sintética pode-se dizer que os problemas visuais, no Alzheimer, ocorrem porque a doença leva à degeneração de células cerebrais responsáveis pelo processamento visual. Isso pode afetar diretamente a forma como a pessoa vê e interpreta o mundo ao seu redor.
Principais problemas visuais relacionados ao Alzheimer
- Dificuldade de Percepção de Profundidade : pacientes com Alzheimer têm dificuldade para calcular distâncias corretamente. Isso pode levar a tropeços, quedas ou dificuldades para alcançar objetos;
- Alterações na Percepção de Núcleos e Contraste: algumas pessoas com diagnóstico da doença relatam problemas para diferenciar núcleos semelhantes ou enxergar em ambientes com pouca iluminação. Isso pode tornar tarefas simples, como ver contornos de objetos ou distinguir alimentos no prato;
- Dificuldade para Reconhecer Rostos e Objetos: um dos principais sinais de Alzheimer, em seu estágio inicial, é a dificuldade para reconhecer rostos familiares ou objetos do dia a dia. Isso ocorre porque o cérebro tem dificuldades para processar as informações visuais e as associadas à memória;
- Sensibilidade à Luz e Reflexos: algumas pessoas com Alzheimer desenvolvem hipersensibilidade à luz ou têm dificuldades para se adaptarem às mudanças bruscas de iluminação, como sair de um ambiente escuro para um muito iluminado;
- Discernir entre certas cores: um exemplo dessa dificuldade é a capacidade de ver o espectro azul-esverdeado que costuma ser afetada no início da demência;
- Problemas com Leitura e Escrita: o cérebro pode ter dificuldades para interpretar letras e palavras, tornando a leitura desafiadora. Além disso, uma pessoa pode perder a capacidade de entender a relação entre os símbolos escritos e seus significados.
Quando suspeitar de Alzheimer?
Se os problemas visuais vêm acompanhados de outros sintomas cognitivos, como esquecimento frequente, dificuldade de se comunicar ou mudanças de comportamento, podem ser um desafio para o Alzheimer.
Os sinais mais comuns da doença incluem:
- Esquecimento de informações recentes;
- Dificuldade para realizar tarefas rotineiras;
- Problemas de linguagem e dificuldade para encontrar palavras;
- Desorientação no tempo e no espaço;
- Mudanças de humor e comportamento.
Diagnóstico e tratamento da condição
O diagnóstico do Alzheimer envolve exames clínicos, neurológicos e de imagem, como ressonância magnética e tomografia cerebral. Testes cognitivos também são utilizados para avaliar a memória e a capacidade de julgamento.
Embora ainda não exista cura para o Alzheimer, medicamentos e terapias podem ajudar a retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. Além disso, adaptações no ambiente, como melhor iluminação e uso de contrastes visuais, podem minimizar os impactos dos problemas visuais no dia a dia.
Por fim, vale lembrar que problemas visuais são um dos primeiros sinais de Alzheimer, mas também podem existir outras causas. Dificuldades para considerar rostos, calcular distâncias ou interpretar núcleos podem indicar que o cérebro está tendo problemas para processar informações visuais.
Se houver suspeita da condição, um diagnóstico precoce feito por um oftalmologista especialista em neuro oftalmologia pode ajudar a adotar medidas para melhorar a qualidade de vida do paciente.
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