Problemas visuais, como miopia, hipermetropia, astigmatismo e condições mais complexas como ceratocone ou ambliopia, podem impactar significativamente o processo de aprendizagem, especialmente em crianças e adolescentes. Dificuldades para enxergar o quadro, ler textos, acompanhar atividades em sala de aula ou usar dispositivos digitais podem levar à fadiga ocular, falta de concentração, baixo rendimento escolar e até desinteresse pelos estudos.
Não raro, quando não diagnosticados e corrigidos adequadamente, esses distúrbios visuais podem ser confundidos com déficit de atenção ou dificuldades cognitivas, prejudicando o desenvolvimento acadêmico dos estudantes. Sendo assim, dentre os problemas oculares aos quais devemos nos atentar está o ceratocone (Keratoconus) . Embora seja frequentemente diagnosticado em jovens adultos, ele pode começar a se desenvolver na infância ; afeta aproximadamente 1 em cada 2.000 pessoas.
O que é o ceratocone?
O ceratocone é uma condição ocular progressiva que afeta a estrutura da córnea, causando seu afinamento e deformação em formato cônico. A prevalência de CERATOCONE na população geral foi estimada em 1,38 por 1000 habitantes (0,138%), segundo uma revisão sistemática e meta-análise publicada por Hashemi H et al na revista Cornea em 2020, que incluiu dados de 7.158.241 participantes de 15 países.
Essa alteração anatômica pode ter impactos significativos na qualidade da visão e, consequentemente, no processo de aprendizagem, especialmente em crianças, adolescentes e jovens adultos em fase de formação acadêmica. Vale destacar que ele é mais comum em pacientes com atopia (asma e eczema), alergias oculares graves, síndrome de Down, síndrome de Marfan e amaurose congênita de Leber.
As causas do ceratocone ainda não são totalmente compreendidas, mas sabe-se que ele é uma condição multifatorial, envolvendo fatores genéticos, ambientais e bioquímicos.

Aqui estão os principais:
1. Fatores genéticos
- Existe um componente hereditário importante. Cerca de 10% a 20% dos pacientes têm histórico familiar de ceratocone.
- Já foram identificadas mutações e variantes genéticas associadas ao ceratocone, embora nenhuma isoladamente explique todos os casos.
2. Microtrauma ocular (esfregar os olhos)
- O ato de coçar ou esfregar os olhos de forma crônica e intensa é um dos principais fatores de risco ambientais.
- Pacientes com alergias oculares (como conjuntivite alérgica) costumam coçar mais os olhos e, portanto, têm maior risco.
3. Doenças sistêmicas associadas
- Algumas condições, especialmente síndromes genéticas como síndrome de Down, síndrome de Ehlers-Danlos, síndrome de Marfan, osteogênese imperfeita, entre outras, têm maior prevalência de ceratocone.
4. Estresse oxidativo e enzimas corneanas
- Alterações bioquímicas na córnea, como desequilíbrio entre enzimas degradadoras da matriz extracelular (metaloproteinases) e seus inibidores, levam à fragilidade corneana.
- O estresse oxidativo excessivo pode danificar o colágeno corneano, favorecendo a ectasia.
5. Fatores hormonais e idade
- O ceratocone geralmente se manifesta na adolescência e pode progredir até a terceira ou quarta década de vida, sugerindo possível influência hormonal. Ainda sabe-se o risco de aparecimento ou piora da doença durante a gestação ou uso sistêmico de hormônios.
Como o ceratocone afeta a visão?
Doenças oculares são de grande impacto na qualidade de vida, pois a diminuição da acuidade visual (AV) é causa importante de incapacidade para determinadas ações que vão desde a leitura até a condução de veículos, especialmente quando em baixa luminosidade. No caso do ceratocone, o principal problema está na distorção visual que ele provoca, o que certamente dificulta a aprendizagem dos estudantes.

As alterações estruturais causadas pela doença resultam em uma série de distúrbios visuais que afetam tanto a visão de perto quanto de longe, induzindo, muitas vezes, ao desenvolvimento de:
- Miopia e astigmatismo irregular: a deformação da córnea causa erros refrativos complexos que muitas vezes não são completamente corrigidos com óculos convencionais;
- Sensibilidade à luz (fotofobia): muitos pacientes relatam desconforto em ambientes muito iluminados, o que pode dificultar a leitura;
- Imagens fantasmas (monocular diplopia): a visão dupla em um só olho torna a leitura extremamente cansativa;
- Flutuação da acuidade visual: a visão pode variar ao longo do dia, criando inconsistência na percepção visual.
Impactos específicos no processo de aprendizagem
1. Dificuldades na Leitura
Estudantes com ceratocone frequentemente relatam:
- Fadiga visual rápida durante a leitura;
- Necessidade de aproximar-se excessivamente do material;
- Dificuldade em manter o foco por longos períodos;
- Problemas para distinguir letras e palavras semelhantes.
2. Desempenho Escolar
A deficiência visual não corrigida adequadamente pode levar a:
- Baixo rendimento acadêmico;
- Dificuldade de concentração em sala de aula;
- Necessidade de tempo adicional para completar tarefas;
- Estresse e ansiedade relacionados ao desempenho.

3. Uso de Tecnologia
Na era digital, o ceratocone apresenta desafios adicionais:
- Dificuldade em enxergar telas de computador e dispositivos móveis;
- Fadiga ocular aumentada pelo uso de telas;
- Problemas com reflexos e contrastes em monitores.
Estratégias para minimizar o impacto da condição na aprendizagem
1. Correção visual adequada
- Lentes de contato rígidas gás-permeáveis: frequentemente a melhor opção para ceratocone, proporcionando uma superfície refrativa regular;
- Lentes esclerais: úteis em casos mais avançados;
- Óculos: em casos leves ou para uso complementar.
2. Adaptações no ambiente de aprendizagem
- Iluminação adequada (nem excessiva nem insuficiente);
- Uso de materiais impressos com fonte aumentada e alto contraste;
- Posicionamento estratégico na sala de aula (geralmente mais perto da frente).
3. Tecnologias assistivas

- Softwares de ampliação de tela;
- Leitores de texto e audiolivros;
- Tablets com ajuste de contraste e brilho.
4. Apoio educacional
- Tempo adicional para provas e tarefas;
- Permissão para gravar aulas;
- Acesso antecipado a materiais didáticos.
Considerações psicológicas e sociais
Além dos desafios físicos, o ceratocone pode afetar emocionalmente os estudantes, causando:
- Frustração com as limitações visuais;
- Baixa autoestima relacionada ao desempenho;
- Ansiedade sobre a progressão da doença;
- Dificuldades em atividades esportivas e sociais.
Em razão disso, o apoio psicológico e o acompanhamento oftalmológico regular são essenciais para ajudar o estudante a desenvolver estratégias de enfrentamento eficazes. É importante que educadores, pais e profissionais de saúde trabalhem em conjunto para criar um ambiente de aprendizagem inclusivo, que atenda às necessidades específicas de estudantes com ceratocone, garantindo que as limitações visuais não se tornem barreiras para o sucesso educacional.

Por fim, cabe destacar que o ceratocone pode, de fato, interferir significativamente no processo de aprendizagem quando não adequadamente controlado. No entanto, com o tratamento oftalmológico correto, adaptações educacionais apropriadas e o uso de tecnologias assistivas, a maioria dos estudantes com a condição pode alcançar seu pleno potencial acadêmico.
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