Num primeiro momento, ouvir de seu oftalmologista que é necessário fazer um transplante ocular parece assustador, mas atualmente, este é um dos procedimentos mais comuns na oftalmologia, utilizado para restaurar a visão em pacientes com córneas danificadas por doenças como ceratocone, distrofia de Fuchs, edema de córnea pós-cirúrgico chamado Ceratopatia Bolhosa Pseudofácica ou qualquer afecção que promova a perda do endotélio corneano. Entre as técnicas disponíveis, o Transplante de Membrana Descemet e Endotélio (DMEK) tem se destacado como um dos métodos mais avançados.
O Transplante de Membrana Descemet e Endotélio (DMEK) é minimamente invasivo, oferece recuperação mais rápida, menor risco de rejeição e resultados visuais superiores em comparação a técnicas tradicionais, como o DSAEK ou o transplante penetrante (PK). Entretanto, o procedimento requer treinamento específico em técnica cirúrgica e manuseio de tecidos, o que nos aponta a importância do cuidado na escolha do profissional que fará a cirurgia.
Neste artigo, exploramos como funciona o DMEK, suas indicações, a forma como é feita a cirurgia, as vantagens da técnica e o que esperar do pós-operatório.
O que é o transplante DMEK?
O DMEK (Descemet Membrane Endothelial Keratoplasty) é um tipo de transplante lamelar posterior, que substitui apenas as camadas internas danificadas da córnea (o endotélio e a membrana de Descemet), preservando as estruturas saudáveis. Essa técnica é especialmente indicada para pacientes com disfunção endotelial, na qual o prejuízo está localizado na camada mais interna da córnea, responsável por manter sua transparência.
Principais indicações desse transplante:
1. Distrofia de Fuchs
• Principal indicação da DMEK.
• Doença endotelial bilateral e progressiva caracterizada por perda de células endoteliais e presença de guttata.
• Ideal para casos em que o estroma está preservado ou pouco espessado.
2. Ceratopatia bolhosa pseudofácica
• Descompensação endotelial após cirurgia de catarata (frequentemente complicada).
• A DMEK é indicada quando há edema persistente, dor, e bolhas epiteliais.
• Pode ser combinada com troca de LIO, se necessário.
3. Ceratopatia endotelial pós-trauma
• Trauma cirúrgico (cirurgias intraoculares), contuso ou por queimadura térmica ou química que levou à falência endotelial.
• Importante avaliar se há outras lesões que contraindiquem o procedimento.
4. Ceratopatia bolhosa afácica ou pseudofácica (sem trauma evidente)
• Situações em que o endotélio falhou sem causa definida evidente.
• Muitas vezes associada a LIOs antigas ou mal posicionadas.
5. Falência de enxerto anterior (DSEK ou PKP)
• Falência endotelial após DSAEK ou ceratoplastia penetrante.
• A DMEK pode ser realizada como “retransplante”, desde que o restante do botão esteja transparente e o problema seja exclusivamente endotelial.
6. Ceratopatia endotelial associada a uveítes (casos selecionados)
• Deve-se ter cautela: inflamação crônica pode afetar o prognóstico.
• Selecionar casos de inflamação bem controlada e com bom seguimento.
7. Distrofia endotelial congênita hereditária (CHED – Congenital Hereditary Endothelial Dystrophy)
• Pode ser autossômica recessiva (CHED2) ou, mais raramente, dominante (CHED1).
• Endotélio ausente ou gravemente disfuncional desde o nascimento ou primeiros anos de vida.
• A córnea é difusamente opaca, espessada, sem sinais inflamatórios.
• Em casos selecionados (principalmente adolescentes ou adultos com córnea ainda clara), a DMEK pode ser considerada.
8. Síndrome de Iridocorneal Endotelial (ICE)
• Embora não seja uma distrofia no sentido genético clássico, é uma doença endotelial adquirida com comportamento distrofiforme.
• Envolve proliferação endotelial anômala, atrofia de íris e sinequias.
• DMEK pode ser tentada em casos selecionados, mas o prognóstico é reservado devido à recorrência da doença e alterações anatômicas.
9. Distrofia de posterior polimorfa (PPMD ou PPCD – Posterior Polymorphous Corneal Dystrophy)
• Distrofia rara, muitas vezes bilateral e assimétrica, com alterações endoteliais de padrão epitelial.
• Pode cursar com descompensação endotelial progressiva e edema.
• DMEK pode ser indicada em fases tardias com perda visual significativa por edema.
10. Distrofia endotelial associada ao gene COL8A2
• Mutação genética associada a formas precoces e agressivas de distrofia de Fuchs (Fuchs de início precoce).
• Pode levar à descompensação ainda em pacientes jovens (20–40 anos).
• DMEK é uma opção precoce nesses casos.
Como a cirurgia é realizada?

- Preparação do Tecido: a córnea do doador é cuidadosamente preparada pelo cirurgião momentos antes da cirurgia, isolando uma fina camada de endotélio e membrana de Descemet (com apenas 20 micrômetros de espessura).
- Remoção do Tecido Danificado: sob microscópio cirúrgico, o cirurgião remove apenas a camada doente do paciente, sem necessidade de pontos.
- Inserção do Enxerto: o tecido doador é inserido no olho por meio de uma pequena incisão (2-3 mm) e posicionado com o auxílio de uma bolha de ar ou gás.
- Fixação Natural: o paciente deve permanecer em repouso por 24-48 horas para que o enxerto adira naturalmente.
5. Duração da Cirurgia: cerca de 30 a 60 minutos (geralmente sob anestesia local e sedação leve).
Vantagens do DMEK em comparação a outros transplantes
Característica | DMEK | DSAEK | Transplante Penetrante (PK) |
Espessura do Enxerto | Muito fino (20 µm) | Mais espesso (100-200 µm) | Espes. total da córnea |
Recuperação Visual | Rápida (semanas) | Mais lenta (meses) | Lenta (6-12 meses) |
Risco de Rejeição | Menor (5-10%) | Moderado (10-15%) | Alto (15-30%) |
Qualidade da Visão | Excelente | Boa | Variável |
Pontos Cirúrgicos | Não requer | Pode requerer | Sempre requer |
Pós-operatório e recuperação
✅ Primeiras 24-48 horas: repouso com a face para cima para ajudar na fixação do enxerto.
✅ Colírios: uso de anti-inflamatórios e antibióticos por várias semanas.
✅ Atividades: evitar esforço físico e esfregar os olhos por 1 mês.
✅ Melhora Visual: a visão começa a melhorar em 1-2 semanas, com estabilização em 3-6 meses.
Possíveis complicações:
- Descolamento do enxerto (pode exigir reposicionamento);
- Falência do enxerto (edema persistente pós-operatório, requer troca do tecido);
- Rejeição imunológica (controlável com colírios);
- Edema corneal residual (geralmente temporário);
- Aumento transitório da pressão intra-ocular (bloqueio angular devido a bolha de ar na câmara anterior);
Entenda por que o DMEK é considerado o “padrão ouro” para doenças endoteliais
Entre os motivos pelos quais esse tipo de transplante é considerado “padrão ouro em transplante de córnea estão:
- Recuperação visual mais rápida em que os pacientes atingem 20/20 em semanas, não em meses.
- Menor risco de rejeição do enxerto, devido à menor quantidade de tecido transplantado.
- Preservação da estrutura da córnea, pois o DMEK substitui apenas a camada endotelial danificada, preservando as outras camadas da córnea.
- Resultados ópticos superiores aos de outras técnicas, sem distorções induzidas por pontos ou espessura excessiva.
- Procedimento menos invasivo, sem pontos e com menor chance de astigmatismo induzido.

Certamente, o Transplante de Membrana Descemet e Endotélio revolucionou o tratamento de doenças endoteliais, oferecendo uma alternativa mais segura, eficiente e com recuperação acelerada em comparação a técnicas antigas.
Se você sofre de edema corneal ou distrofia de Fuchs, consulte um oftalmologista especializado em córnea para avaliar se esse procedimento é indicado para seu caso.
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