A menopausa, uma das fases mais delicadas da saúde feminina, marcada pela queda nos níveis de estrogênio e por outras alterações hormonais, influencia significativamente o organismo feminino; e a saúde ocular também se insere nesse contexto. A redução hormonal pode levar à Síndrome do Olho Seco, uma vez que os hormônios sexuais desempenham um papel essencial na produção e qualidade da lágrima, afetando as glândulas meibomianas e a lubrificação da superfície dos olhos.
Além disso, mulheres que se encontram na menopausa podem experimentar maior sensibilidade à luz, irritação crônica e até alterações na visão devido ao ressecamento e à inflamação da córnea. Essas mudanças destacam a importância de acompanhamento oftalmológico e tratamentos específicos, para aliviar os sintomas e preservar a saúde dos olhos nessa fase tão delicada da mulher.
A Síndrome do Olho Seco é uma condição comum, especialmente em mulheres na menopausa, devido às alterações hormonais que afetam a produção e a qualidade das lágrimas. Estudos sugerem que até 79% das mulheres na peri e pós-menopausa sofrem da condição, com cerca de 37% delas apresentando sintomas graves.
Antes de nos aprofundarmos nas questões que interligam a menopausa e a Síndrome do Olho Seco, é importante destacar que a condição manifesta-se de duas formas: olho seco evaporativo e hipossecretor. O primeiro tipo, normalmente relacionado a disfunções das glândulas meibomianas, é o mais prevalente. Já o segundo, resulta de uma produção insuficiente de lágrimas.
Menopausa e saúde ocular
As variações dos níveis hormonais que ocorrem durante a fase da menopausa podem afetar os olhos de diferentes formas. Entre elas, podem ser citadas alterações na espessura da córnea, aumento da pressão intraocular (PIO), maior risco de derrame ocular e, especialmente, a diminuição do fluxo lacrimal, o que aumenta os sintomas de olho seco, como vermelhidão, ardência e sensação de peso nos olhos.
A Síndrome do Olho Seco é uma das condições oculares mais frequentes entre mulheres que se encontram no período da menopausa. Isso se deve a uma disfunção que ocorre nas glândulas meibomianas, localizadas nas pálpebras superiores e inferiores.
Essas glândulas secretam um óleo conhecido como meibum. Quando piscamos, ele é liberado e espalhado pela superfície do olho, criando uma barreira de hidratação suave que impede a evaporação das lágrimas. Esse processo de secreção é controlado por andrógenos.
Ocorre que, durante a menopausa, a redução dos níveis de estrogênio pode levar à disfunção meibomiana, resultando em evaporação excessiva da lágrima e no ressecamento ocular, o que é conhecido como Olho Seco Evaporativo.
Sintomas do Olho Seco
Em geral, os sintomas do Olho Seco Evaporativo e Aquoso, na menopausa, são os mesmos de outros causados por outros fatores. Ainda que sua frequência e gravidade possam variar, os mais comuns incluem:
- Sensação de aspereza ou areia nos olhos;
- Queimação ou coceira;
- Vermelhidão;
- Excesso de muco nos olhos ao acordar;
- Visão embaçada, turva;
- Sensibilidade à luz.
Porém, se os sintomas estiverem associados a uma causa subjacente, como blefarite , por exemplo, pode haver outras características presentes.
Terapia de Reposição Hormonal e Olho Seco
Entre as várias polêmicas sobre o uso da Terapia de Reposição Hormonal (TRH) está, também, a sua influência no surgimento da Síndrome do Olho Seco. Sabe-se que a TRH é um tratamento que visa aliviar os sintomas da perimenopausa e menopausa. No entanto, sua utilização para aliviar sintomas naturais dessa fase pode acarretar em ressecamento ocular.
Existem dois tipos de terapia hormonal: apenas estrogênio, e estrogênio mais progesterona. A reposição desses hormônios, de acordo com alguns estudos, pode ajudar a aliviar alguns sintomas da menopausa, como ondas de calor e crescimento de pelos. Por outro lado, o efeito do estrogênio na produção de óleo é oposto ao dos andrógenos. Ele inibe a secreção de óleo, impedindo que os andrógenos auxiliem o funcionamento da glândula meibomiana, como afirmamos anteriormente, levando ao olho seco evaporativo.
Estrogênios e andrógenos afetam mais do que apenas as glândulas meibomianas, também afetam as glândulas lacrimais , as quais produzem a camada aquosa do filme lacrimal. A glândula lacrimal é um órgão alvo para andrógenos, ou seja, os hormônios regulam sua estrutura e função. Os andrógenos aumentam as proteínas na glândula lacrimal, o que promove a secreção de fluidos.
Já o estrogênio tem o efeito oposto ao dos andrógenos na glândula lacrimal, assim como na glândula meibomiana. Ele bloqueia a estimulação androgênica da produção de lágrimas. Isso leva à subprodução de lágrimas aquosas, o que é conhecido como olho seco por deficiência de humor aquoso.
De acordo com um artigo publicado na JAMA Network:
“O uso de TRH foi significativamente relacionado à prevalência da síndrome do olho seco. Considerando a prevalência da síndrome do olho seco diagnosticada clinicamente ou de sintomas graves, as mulheres que nunca usaram TRH apresentaram a menor prevalência (5,9%). As mulheres que usaram estrogênio isolado apresentaram a maior prevalência (9,1%), e as mulheres que usaram uma combinação de estrogênio mais progesterona/progestina apresentaram uma prevalência intermediária entre as que nunca usaram e as que usaram estrogênio isolado (6,7%). As relações foram semelhantes para sintomas graves e síndrome do olho seco diagnosticada clinicamente. […]
Em resumo, o estudo realizado sugere que mulheres na pós-menopausa que usam TRH apresentam maior prevalência de síndrome do olho seco em comparação com aquelas que nunca usaram TRH, e isso é particularmente verdadeiro para mulheres que usaram estrogênio isoladamente.”
Frente ao exposto, a recomendação médica é a de que mulheres que fazem uso da TRH também façam acompanhamento oftalmológico, especialmente se houver presença de sintomas associados à Síndrome do Olho Seco.
Tratamento para a Síndrome do Olho Seco
O tratamento mais comum para a Síndrome do Olho Seco, na fase da menopausa, são os lubrificantes oculares em forma de colírio (solução e suspensão), gel e pomada. Eles auxiliam na hidratação ocular e aliviam a sensação de areia e irritação associadas à condição.
Embora alguns sejam de venda livre, é importante que sua prescrição seja feita por um profissional da área da oftalmologia, pois, se não forem usados corretamente, podem ter efeitos adversos. Além disso, o ideal é não esperar até que os olhos comecem a ficar secos para buscar atendimento oftalmológico.
Pequenas mudanças no estilo de vida também podem evitar ou aliviar os sintomas do Olho Seco:
- Usar umidificador em cômodos nos quais você passa muito tempo;
- Evitar o tabagismo ou estar perto de fumaça;
- Usar óculos de sol ou de proteção quando exposto a clima seco, frio ou ventoso;
- Evitar passar muito tempo em condições secas, frias e ventosas;
- Usar telas digitais com moderação;
- Evitar ar condicionado e calefação em excesso;
- Evitar uso indiscriminado de medicações, drogas psicoativas, álcool e hormônios;
- Evitar cirurgias estéticas precoces e procedimentos estéticos desnecessários na área dos olhos como colocação de cílios postiços;
- Evitar o uso exagerado de maquiagens;
- Fazer higiene diária dos cílios, mesmo aqueles que não usam maquiagem;
- Evitar ambientes poluídos;
- Dormir 8 horas ao dia;
- Evitar sedentarismo.
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