Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul foi duramente atingido por uma enchente severa que afetou diversas regiões do estado. Chuvas torrenciais, que ultrapassaram os níveis normais para a época do ano, causaram o transbordamento de rios e a inundação de áreas urbanas e rurais. As cidades de Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas foram particularmente afetadas, com milhares de pessoas deslocadas, casas destruídas e infraestruturas danificadas.
Cronologicamente, no dia 29 de abril, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu o primeiro alerta vermelho de volume elevado de chuva que poderia causar impacto significativo nas comunidades gaúchas. As chuvas intensas resultaram de uma combinação de fatores, entre eles uma massa de ar quente sobre a área central do país, que bloqueia a frente fria que está na região Sul e faz com que a instabilidade fique sobre o Estado, causando grandes e contínuas precipitações.
A previsão do Inmet foi assertiva. Já no dia 1° de maio, com a piora do cenário – 114 municípios e mais de 19 mil pessoas afetadas – foi decretado estado de calamidade pública no RS. E, desde então, sucessivamente, cidades foram sendo atingidas por um dos maiores desastres ambientais já vistos no Brasil.

De acordo com a Secretaria de Comunicação do Rio Grande do Sul, no final de junho, (29/05/24) já se contabilizava:
- 471 Municípios afetados;
- 47.651 Pessoas em abrigos;
- 581.638 Desalojados;
- 2.345.400 Afetados pelas cheias;
- 806 Feridos;
- 44 Desaparecidos
- 169 Óbitos confirmados;
- 77.729 Pessoas resgatadas;
- 12.527 Animais resgatados.
Frente à situação dramática vivida pelos gaúchos, a resposta das autoridades locais incluiu a mobilização de equipes de resgate, abrigos temporários e a distribuição de suprimentos emergenciais para os desabrigados. Além disso, a tragédia provocou uma grande onda de solidariedade no Brasil inteiro. Vieram donativos de todos os Estados, inclusive de outros países; inúmeras pessoas tornaram-se voluntárias para o atendimento à população atingida; foram criados hospitais de campanha, corredor humanitário para chegada de donativos e atendimento à saúde…enfim, o país uniu-se pelo bem comum, pelo povo gaúcho.
Além das perdas citadas acima, vale destacar que também a economia gaúcha está sendo diretamente impactada pelas cheias. De acordo com dados divulgados pela FIERGS, 94,3% da atividade econômica do estado foi seriamente afetada pelas inundações. Em torno de 48,3 mil indústrias sofreram perdas, o que impacta em prejuízos bilionários ao estado e em perda significativa de empregos para a população gaúcha. No que se refere às micros e pequenas empresas gaúchas, de acordo com informações apontadas pelo Sebrae RS, cerca de 600 mil estabelecimentos foram atingidos pela enchente. Isso significa que 9 em cada 10 empresas ficaram alagadas. Certamente, a recuperação econômica do RS será lenta e extremamente onerosa.
Consequências das Cheias para a Saúde Pública do RS

As consequências da enchente no Rio Grande do Sul, iniciadas em maio de 2024, também levantaram preocupações sobre a saúde pública. A água contaminada e o acúmulo de resíduos aumentaram o risco de doenças infecciosas, incluindo problemas gastrointestinais, doenças transmitidas por mosquitos e infecções oculares.
Entre os muitos riscos, as doenças oculares são uma preocupação significativa, especialmente em ambientes onde o acesso a cuidados médicos é limitado. A exposição à água contaminada e a outros fatores ambientais durante enchentes pode levar ao desenvolvimento de diversas condições oculares que podem surgir em vítimas das cheias. Frente a isso, as autoridades de saúde intensificaram os esforços de vigilância epidemiológica e promoveram campanhas de conscientização sobre medidas preventivas.
Além das questões relacionadas à saúde da população gaúcha, a enchente de 2024 no RS destacou a necessidade de aprimorar as políticas de gestão de desastres e infraestrutura de drenagem no Estado para mitigar os impactos de futuras inundações.
Doenças oculares provocadas por águas contaminadas
1. Conjuntivite
A conjuntivite, também conhecida como “olho vermelho”, é uma inflamação ou infecção da conjuntiva, a membrana que cobre a parte branca do olho e o interior das pálpebras. Durante enchentes, a exposição à água contaminada com bactérias, vírus e fungos aumenta significativamente o risco de conjuntivite. Sintomas incluem vermelhidão, coceira, secreção e sensação de areia nos olhos.

2. Ceratite
A ceratite é uma inflamação da córnea, a camada transparente na frente do olho. Ela pode ser causada por bactérias, fungos, vírus e parasitas presentes na água suja. A ceratite pode levar à dor intensa, visão turva, sensibilidade à luz e, em casos graves, úlceras na córnea que podem resultar em perda de visão, se não tratadas adequadamente.
3. Leptospirose ocular
A leptospirose é uma infecção bacteriana causada pela bactéria Leptospira, frequentemente encontrada em água contaminada com urina de animais infectados, como ratos. A infecção pode afetar várias partes do corpo, incluindo os olhos. A leptospirose ocular pode causar uveíte (inflamação da camada média do olho), que pode levar à dor, vermelhidão, visão embaçada e, se não tratada, danos permanentes à visão.

4. Endoftalmite
A endoftalmite é uma infecção grave dentro do olho que pode ocorrer quando microrganismos entram no globo ocular, frequentemente por meio de feridas ou cirurgias, mas também possivelmente devido à exposição a águas contaminadas. Esta condição é uma emergência médica e pode resultar em perda significativa de visão ou até cegueira, se não for tratada imediatamente com antibióticos ou cirurgia.
5. Traumas oculares
Durante enchentes, a presença de destroços e outros materiais flutuantes aumenta o risco de traumas oculares. Lesões podem variar de leves a graves, incluindo abrasões da córnea, lacerações e perfurações. Traumas oculares requerem atenção médica urgente para prevenir infecções secundárias e outras complicações.
6. Alergias e irritações
A exposição prolongada a águas sujas e poluídas pode resultar em irritações e reações alérgicas nos olhos. Substâncias químicas, poluentes e outros irritantes podem causar sintomas como coceira, vermelhidão e lacrimejamento. Embora esses sintomas possam ser temporários, eles podem ser desconfortáveis e afetar a qualidade de vida.

7. Doenças parasitárias
Parasitas presentes em água contaminada podem infectar os olhos. Um exemplo é a Acanthamoeba, um parasita que pode causar ceratite, uma infecção dolorosa e potencialmente grave da córnea. A infecção por Acanthamoeba é mais comum entre usuários de lentes de contato que entram em contato com água contaminada, mas qualquer pessoa exposta durante enchentes está em risco.
Prevenção e tratamento de doenças oculares causadas por enchentes
Embora nessa situação que o RS vive seja difícil falar em prevenção, é importante alertar a população, especialmente as pessoas que estão rotineiramente expostas às águas contaminadas, como os resgatistas, por exemplo, sobre formas de proteção que podem ser adotadas na medida do possível.
Prevenir doenças nos olhos em áreas afetadas por enchentes envolve várias medidas, como evitar o contato com água suja, usar óculos de proteção ao entrar em áreas alagadas e garantir boa higiene pessoal, incluindo a lavagem frequente das mãos e do rosto. Se ocorrerem sintomas de doenças oculares, é crucial procurar atendimento médico imediato. Tratamentos variam de colírios antibióticos e antifúngicos a intervenções cirúrgicas em casos graves.
Além disso, investir em campanhas de saúde pública que informem sobre os riscos e também sobre as práticas de higiene adequadas podem ser eficazes na prevenção de doenças oculares após enchentes. Autoridades devem estar preparadas para responder rapidamente a surtos de doenças infecciosas, incluindo aquelas que afetam os olhos, para minimizar o impacto na saúde das populações afetadas.
O RS está passando por um momento bastante difícil e, com certeza, dependerá de muitas iniciativas, sejam elas oriundas do poder público ou da organização de civis, para reerguê-lo. A área da saúde, dentro deste contexto, ainda enfrentará grandes desafios após a baixa dos rios e lagos que provocaram as enchentes. Sanar “todas as feridas” da população levará tempo e exigirá atendimentos tanto para a saúde física quanto emocional dos gaúchos tão duramente castigados pelas enchentes.

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Com anos de experiência, meu foco é ajudar os pacientes a VEREM o mundo da melhor maneira possível por meio de tratamentos modernos e de acordo com cada particularidade. Vamos agendar uma consulta e entender como podemos cuidar da sua saúde?